Valença do
Minho é, por circunstâncias várias, a mais importante fortaleza do Alto
Minho. No século XVII, no contexto das Guerras da Restauração da
Independência Portuguesa, construiu-se uma impressionante fortificação
abaluartada, de patamares sobrepostos para melhor aproveitar as
condições topográficas do local, projecto grandioso que se assumiu como
obra de propaganda e de ameaça face à vizinha Espanha.
As
origens da cidade são, contudo, anteriores. Elas remontam à viragem
para o século XIII e ao reinado de D. Sancho I, monarca que coutou a
povoação e a entregou a Paio Carramundo, com a obrigação de a povoar e
organizar. Face à natureza expansionista do bispo de Tui e do mosteiro
de Ganfei, a fundação da localidade insere-se no processo de
reconhecimento da autoridade régia no Alto Minho, que percorre grande
parte da política real durante a primeira dinastia.
Imediatamente
se terá construído um primitivo reduto defensivo, sucessivamente
reformado ao longo dos séculos seguintes. Com foral a partir de 1217, e
com cintura de muralhas datadas, muito provavelmente, da mesma época,
Valença foi assumindo uma importância estratégica no contexto das
relações do Minho com a Galiza, estatuto reforçado por ser o principal
ponto de passagem entre as duas regiões.
O
que resta da fortaleza medieval data do reinado de D. Afonso III. Em
1262, o rei ordenou uma grande reforma do sistema militar da vila, cujas
muralhas passaram a abarcar toda a povoação. Desconhecemos, em grande
parte, a sua configuração, pelas múltiplas transformações posteriores,
mas restam ainda alguns vestígios que podemos atribuir a essa época.
Na
Porta do Açougue, virada a Norte, é ainda possível verificar a
existência de um escudo medieval na pedra de fecho. A porta da Gabiarra,
voltada a nascente, era a principal entrada na fortaleza, dando para a
zona ribeirinha e para a barca que fazia a travessia do Minho.
Assumia-se como uma entrada triunfal, de grande impacto cenográfico e
onde se concentravam os elementos identificativos do patrocínio régio,
compondo-se por uma passagem ladeada harmonicamente por duas imponentes
torres quadrangulares.
No
final da Idade Média, como desenhou Duarte d'Armas, a fortaleza
afonsina foi complementada por barbacãs e por uma couraça, elementos que
revelam a sua importância no período de transição para a guerra de
pólvora.
Chegados
ao século XVII, Valença era uma das localidades mais expostas aos
ataques espanhóis, cujas tropas a tentaram tomar em 1643 e 1657. A
localização privilegiada no curso do Minho e as condições do terreno
possibilitaram a construção de uma das mais significativas realizações
militares da História de Portugal. O projecto ficou a dever-se a Miguel
de l'Escole, engenheiro militar com outros trabalhos documentados em
fortalezas do Alto Minho, arrancando as obras em 1661. Estas, só ficaram
formalmente concluídas em 1713, ano em que uma planta do seu último
arquitecto, Manuel Pinto de Vilalobos, a dá como concluída, embora
existam referências à construção de baluartes nos anos seguintes.
Meio
século de trabalhos alteraram radicalmente a fisionomia de Valença e a
relação da localidade com o rio, separados, a partir daí, por uma
gigantesca malha de baluartes e de patamares comunicantes entre si
através de fossos e de passagens superiores. Planimetricamente, a nova
fortaleza dividia-se em duas áreas, ainda hoje bem vincadas,
inter-ligadas pela Porta do Meio: a Norte, abrangendo o velho núcleo
medieval, a "Vila", onde se concentrava o grosso da população e os
principais equipamentos sociais; a Sul, correspondendo a uma área menor,
mas praticamente desimpedida de construções, a "Coroada". A rodear os
dois espaços urbanos, uma densa malha de baluartes, revelins e fossos
isolava a cidade e permitia uma ampla área de visibilidade e de fogo.
Obra
maior da nossa História, Valença foi restaurada ao longo do século XX e
prepara-se, na actualidade, para se candidatar a Património da
Humanidade.
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