A
cidade de características urbanas mediterrânicas mais a Norte de
Portugal, como se lhe referiu Cláudio Torres ,foi cintada, na época
medieval, por uma poderosa muralha de que se conservam ainda alguns
vestígios importantes. O perímetro amuralhado, parcialmente
reconstituído por alguns autores, é considerável, desenvolvendo-se desde
a margem do Mondego, onde uma grande torre - Torre de Belcouce -
defendia a parte mais baixa do recinto. A cerca desenvolvia-se em planta
oval, passando pela actual Rua Ferreira Borges, onde se conserva ainda o
grandioso arco de Almedina, e subia até ao actual Museu Machado de
Castro, a partir do qual se iniciava a alcáçova, genericamente conotada
com o Largo de D. Dinis.
Infelizmente,
as fases de destruição por que passou o centro histórico da cidade não
permitem, hoje em dia, reconhecer a totalidade do alinhamento
amuralhado. O castelo, de que subsistiram plantas de época pombalina
referenciando a torre de menagem românica, foi quase totalmente
destruído em 1772, altura de um projectado, mas não realizado,
observatório. Posteriormente, a edificação estado-novista na alta da
cidade determinou a destruição de inúmeros vestígios da estrutura
militar antiga.
A
par de alguns troços de muralha inseridos na malha urbana e em
edificações posteriores, conservam-se algumas torres e portas que
constituem, ainda, uma referência obrigatória na paisagem urbana de
Coimbra.
A
mais importante é a Porta da Almedina, localizada na Rua Ferreira
Borges e originalmente defronte do leito do Mondego. Compõe-se de um
grande arco, incialmente em ferradura, mas cujos saiméis laterais foram
desbastados ao longo dos séculos conferindo-lhe a actual feição de volta
perfeita, protegido por uma não menos grandiosa torre. Como entrada
natural e privilegiada na cidade, esta porta foi objecto de algumas
modificações e actualizações, especialmente na época moderna. No reinado
de D. Manuel ou, mais propriamente, no de D. João III, a torre foi
adaptada a Casa da Câmara. Data dessa altura a campanha artística
renascentista levada a cabo por João de Ruão, escultor a quem se deve o
baixo relevo da Virgem com o Menino que sobrepuja o interior do
arco-túnel, e a janela quadrangular decorada que o ladeia. Já em finais
do século XIX, a torre teve várias funções, como a de Escola Livre das
Artes do Desenho, dirigida por António Augusto Gonçalves, até que aqui
se estabeleceu o Arquivo Histórico Municipal.
Outro
elemento importante que ainda subsiste do perímetro amuralhado medieval
é a pequena porta junto ao Museu Nacional de Machado de Castro,
composta por um arco de ferradura inserido num alfiz e sobrepujado por
ameias, facto que revela o cuidado na execução desta parte da muralha e
até a elegância das suas realizações. A torre de Anto, cuja
classificação foi efectuada autonomamente, constitui um vestígio mais do
que foi a muralha da cidade de Coimbra.
O
contributo da Arqueologia no centro histórico de Coimbra será decisivo
para o reconhecimento das estruturas militares medievais da cidade.
Escavações actualmente em curso no pátio da Universidade têm revelado
algumas estruturas de extremo interesse, relacionadas com o Paço - de
origem islâmica e sucessivamente transformado pelos nossos monarcas ao
longo dos séculos - que a muralha envolvia. O alargamento das áreas
intervencionadas arqueologicamente com certeza trará novos dados para um
dos problemas que os autores que se têm dedicado à história da cidade
mais se debatem: a definição do(s) traçado(s) da muralha durante a Idade
Média, desde a sua possível construção - em época romana ou islâmica -
até às transformações da Baixa Idade Média.
Texto: PAF / IPPAR
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