domingo, 25 de dezembro de 2011

Gabão — um refúgio para a vida selvagem

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IMAGINE uma praia tropical onde elefantes pastam à beira-mar, hipopótamos nadam e baleias e golfinhos agrupam-se não muito longe dali. Na costa africana, há 100 quilômetros de praia em que cenas como essa ainda são comuns.
Para que cenas desse tipo sejam apreciadas no futuro, sem dúvida essa incomparável região costeira precisa ser preservada. Felizmente, em 4 de setembro de 2002, tomaram-se medidas para conservar essa região quando o presidente do Gabão anunciou que 10% do país — incluindo faixas litorâneas limpíssimas — seriam transformados em parques nacionais.
Essas áreas virgens com cerca de 30 mil quilômetros quadrados — o equivalente ao tamanho da Bélgica — têm muito a oferecer. “O Gabão tem potencial para transformar-se numa meca ecológica, atraindo ‘peregrinos’ dos quatro cantos da Terra à procura das últimas maravilhas naturais no planeta”, disse o presidente Omar Bongo Ondimba.
Por que essas reservas são tão importantes? Cerca de 85% do país ainda é coberto por florestas, e 20% de suas espécies de plantas não são encontradas em nenhum outro lugar no mundo. Além disso, suas florestas equatoriais são um refúgio para gorilas-das-planícies, chimpanzés, elefantes-da-floresta e muitas outras espécies ameaçadas de extinção. Esses parques recém-criados vão fazer do Gabão um país que protege de modo notável a biodiversidade africana.

As incomparáveis praias de Loango

O Parque Nacional de Loango talvez seja um dos lugares mais impressionantes da África para se visitar e observar a vida selvagem. Ele conserva quilômetros de praias intocadas perto de lagoas de água doce e uma densa floresta equatorial. Mas o que realmente torna as praias de Loango incomparáveis são os animais que andam em suas areias — hipopótamos, elefantes-da-floresta, búfalos, leopardos e gorilas.
Por que a praia atrai esses animais da floresta? Ladeando as praias de areia branca de Loango, há vegetação para os hipopótamos e búfalos comerem. Palmeiras da espécie Borassus aethiopum, que crescem ao longo da praia, produzem em grande quantidade frutos que atraem elefantes-da-floresta. No entanto, o mais importante é o isolamento que essas praias proporcionam. As únicas pegadas na areia são dos animais.
Por não haver interferência humana ali, as tartarugas-de-couro, ameaçadas de extinção, escolhem essas praias isoladas para pôr seus ovos. Abelheiros-rosados, que vivem em colônias, também preferem fazer seus ninhos na areia dessas praias, a apenas poucos metros acima do nível da maré alta. Nos meses de verão, mais de mil baleias-corcundas se acasalam nas águas tranqüilas de Loango.
Duas lagoas imensas separam as praias de Loango da floresta equatorial e são um habitat ideal para crocodilos e hipopótamos. Há muitos peixes nessas lagoas cercadas por mangues. A águia-pesqueira-africana e a águia-pesqueira sobrevoam as águas profundas das lagoas em busca de comida, enquanto várias espécies de coloridos martins-pescadores procuram por peixes nas águas rasas. Elefantes, que gostam de água, não se importam de nadar através das lagoas para chegar à praia e se empanturrar com seu fruto favorito.
Dentro da floresta equatorial, macacos se movem com agilidade pelos galhos mais altos das copas das árvores, enquanto borboletas coloridas voam de modo suave nas clareiras ensolaradas. Morcegos frugívoros descansam de dia em suas árvores favoritas e, à noite, cumprem a função essencial de espalhar sementes por toda a floresta. Nas extremidades da floresta, brilhantes pássaros-sol bebericam o néctar das flores de árvores e arbustos. É por isso que Loango é corretamente chamado de “um lugar onde se pode experimentar o melhor da África equatorial”.

Lopé — um dos últimos habitats dos gorilas
O Parque Nacional de Lopé inclui áreas enormes de floresta pluvial virgem, e no norte do parque há trechos de savana e mata de galeria. É um lugar ideal para amantes da natureza que querem observar gorilas, chimpanzés ou mandris em seu ambiente natural. Existem entre 3 mil e 5 mil gorilas espalhados pelos 5 mil quilômetros quadrados de área protegida.
Augustin, um ex-funcionário do parque, relembra um encontro fora do comum que teve com gorilas em 2002. “Enquanto caminhava pela floresta, dei de cara com uma família de quatro gorilas”, ele se recorda. “O macho, um enorme gorila de costas prateadas com uns 35 anos, parecia um gigante em comparação comigo. Ele devia ter no mínimo três vezes o meu peso. Seguindo o procedimento recomendado, sentei-me imediatamente, abaixei a cabeça e olhei para o chão em sinal de submissão. O gorila chegou mais perto, sentou ao meu lado e pôs a mão no meu ombro. Daí ele pegou minha mão, abriu-a e examinou a palma. Convencido de que eu não representava perigo à sua família, ele entrou de modo tranqüilo na floresta. Naquele dia inesquecível descobri como é fascinante entrar em contato com animais em seu habitat. As pessoas matam gorilas para obter carne selvagem ou por terem a idéia errada de que são perigosos, mas eles são animais pacíficos que merecem ser protegidos.”
Em Lopé, os mandris, grandes babuínos, formam grupos enormes que às vezes chegam a ter mais de mil desses macacos. Essa é uma das maiores concentrações de primatas do mundo, e com certeza bem barulhenta. Veja como um visitante de Camarões descreveu seu encontro com um desses enormes grupos:
“Nosso guia localizou os mandris porque vários deles usam coleiras de monitoração. Passamos à frente do grupo e montamos logo um esconderijo camuflado, à espera dele. Durante 20 minutos, ficamos ouvindo a música da floresta, cantada por uma infinidade de aves e insetos. Essa tranqüilidade foi interrompida de modo repentino pela aproximação do bando de mandris. Por causa de seus gritos e do barulho de galhos sendo quebrados, tive a impressão de que uma grande tempestade se aproximava. Mas, quando vi os primeiros mandris chegarem, eles pareciam mais a guarda avançada de um exército. Os machos maiores iam na frente, andando rapidamente pelo chão da floresta, enquanto as fêmeas e os mais jovens iam por cima, pulando de galho em galho. De repente, um dos machos maiores parou e olhou ao redor com suspeita. Um mandril jovem, que se movia pelas copas das árvores, havia nos avistado e soado o alarme. O grupo inteiro apertou o passo e o barulho ficou ainda maior, pois eles gritavam com muita raiva, incomodados com nossa presença. Depois de alguns instantes, eles se foram. O guia calculou que uns 400 mandris haviam passado por nós.”
Os chimpanzés fazem tanto barulho quanto os mandris e são ainda mais difíceis de avistar porque se movem muito rápido pela floresta numa contínua busca por comida. Por outro lado, é comum os visitantes verem macacos-de-nariz-branco, que às vezes saltitam pela savana que beira a floresta. É provável que o habitante mais solitário de Lopé seja o macaco-de-cauda-dourada, uma espécie exclusiva da região, descoberta apenas uns 20 anos atrás.
As grandes e coloridas aves da floresta — como os turacos e os calaus-de-cara-prateada — anunciam sua presença com gritos estridentes. Cerca de 400 espécies de aves foram catalogadas nesse parque, o que faz dele um lugar popular para observadores de aves.

Um refúgio para a biodiversidade

Loango e Lopé são apenas 2 dos 13 parques nacionais do Gabão. Outros parques preservam mangues, conservam a flora ímpar e protegem as zonas de aves migratórias. “O Gabão transformou os principais ecossistemas do país em reservas”, explica Lee White, da Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem. “O que faz a diferença não é só o tamanho das áreas conservadas, mas também sua qualidade. Em 2002, quase da noite para o dia, o governo criou um excelente sistema de parques nacionais que abrange toda a biodiversidade do país.”
 Naturalmente, ainda há muitos desafios, como reconhece com franqueza o presidente Bongo Ondimba. Ele diz: “Estamos falando de um esforço mundial que sem dúvida envolverá sacrifícios a curto e longo prazos, se quisermos atingir nosso objetivo de preservar essas maravilhas da natureza para as gerações futuras.”

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