NO CORAÇÃO da grande estepe rodésia, não muito longe da região sudeste do Forte Vitória, o viajante encontrará as ruínas de uma grande cidade-fortaleza, seus restos se espalhando por ampla área. Muito surpreendente é o complexo de vastas estruturas que ocupam o centro da área, muitas das quais ainda estão de pé. Quem as construiu? Ora, numa terra usualmente associada com choupanas, eram necessárias? E quando foi que isto ocorreu? Estas são as perguntas que passam pela mente à medida que a pessoa se coloca no meio destas antigas ruínas e contempla o círculo distante de montanhas azul-enevoadas.
Zimbabwe — pois este é o nome destas ruínas — tem constituído um enigma por longo tempo. Os antigos viajantes relataram a sua existência há diversos séculos — naquele tempo relacionando a localização com a terra de Ofir, da qual Salomão obteve suas reservas de ouro. Daí, por longo tempo, Zimbabwe de novo ficou perdida. Ninguém conhecia a sua localização. Muitos duvidavam da sua existência. Mas, em 1868, um caçador de marfim deu de encontro com o local. Imagine sua surpresa ao descobrir tais evidências de uma cidade antiga no meio do mato! Deve ter sido como um sonho.Não resta muito mato por aqui agora. Com efeito, há acomodações para turistas e toda oportunidade de se examinar o local despreocupadamente. Não gostaria de fazer exatamente isso? Podemos anteceder a excursão com informações de que Zimbabwe, pronuncia-se Zim - bá - ue, tem, segundo se pensa, o significado de “a casa do chefe”.
Uma Maravilha Após Outra
Primeiro, ao nos aproximarmos do Grande Recinto ou Templo, confrontamos uma parede tão alta que se assemelha a uma simples rocha escarpada. Tem cerca de nove metros e meio de altura, quatro metros e meio de grossura na base e chega quase a três metros no pico, e envolve completamente o Recinto. Ao nos aproximarmos, notamos que é construída de pedra de granito, cortada e modelada de tal modo que torna o betume desnecessário. Em fila indiana, passamos por uma das entradas estreitas até o interior, e literalmente arquejamos ao ver as extensivas ruínas, ocultando tênuemente um sistema de recintos, plataformas, passagens e colunas.
Neste ponto, achamo-nos no que é chamado de Recinto da Plataforma, e podemos dentro em breve ver os restos da plataforma erguida, de onde derivou o nome. Atravessando o recinto em direção à plataforma, entramos numa área mais ou menos triangular por trás dela, conhecido como o Recinto Sagrado. Ali, no meio, ergue-se sólida pedra cônica com cimo achatado, tendo mais de cinco metros de diâmetro na base, e diminuindo magistralmente aos poucos. Perto se ergue um segundo cone truncado menor. Tem-se sugerido que estes juntos representam os símbolos masculino e feminino da adoração fálica.
À medida que o Recinto Sagrado se afina em direção ao nordeste, entramos a seguir por uma longa e estreita passagem, com mais de 60 metros de comprimento, e, em certos lugares, apenas o suficientemente larga para avançar uma fila indiana. Olhando-se para cima, para o céu azul que emoldura a pequena abertura entre estas paredes altaneiras, não se pode deixar de admirar quem foram os construtores. A pergunta também ocorre: Será que os antigos sacerdotes usavam certa vez esta passagem particular que levava do Recinto Sagrado à entrada norte do Recinto do Templo?
Voltando de novo ao céu aberto, fora da elevada muralha exterior, pausamos para admirar a interessante moldura em ziguezague que corre ao longo da parede perto de seu topo. Um ônibus nos leva agora para ainda outra modalidade de Zimbabwe, A Acrópole, uma colina escarpada em cujos lados podemos observar seções de uma muralha de pedra que se apega à fachada a cerca de 76 metros acima de nós. Começamos a subir e não demora muito até que achamos que os degraus cortados na colina tornam mais fácil a subida. Mas, estes se tornam cada vez mais estreitos e íngremes ao subirmos. Quão considerada foi a direção do parque em suprir estes bancos para se descansar!
Lá vamos nós, subindo cada vez mais, e a subida fica cada vez mais íngreme, até que chegamos ao que se parece uma rachadura na face da rocha. Resulta ser uma passagem estreita entre duas gigantescas pedras arredondadas, que só permitem que se passe apertadamente entre elas — e subitamente lá se está. Sim, emergimos da passagem apertada em um platô, com maravilhosa vista da região por quilômetros ao redor. Voltadas para dentro, em direção ao centro da colina, muralhas de pedra se erguem de novo diante de nós, a mais de sete metros e meio de altura. Há uma pequena passagem coberta, tão baixa que precisamos agachar-nos para passar por ela, e aqui, estamos, no meio do que resta desta fortaleza na colina. A pergunta incomodativa é: Quem a construiu?
Aqui há eiras de nível dividido, muralhas divisórias de pedra, passagens serpenteantes, e, à nossa esquerda, uma área circunscrita. Há muitas evidências de alterações e de reconstruções inferiores. Torna-se claro que mais de um povo viveu aqui. No fim de uma longa passagem, saímos no Recinto Ocidental. Daqui se tem uma grandiosa visão do vale lá embaixo, e do inteiro Recinto do Templo que visitamos antes. Degraus escarpados descem daqui. Mas, nós iremos para o Recinto Oriental, pois diz-se que este era o ponto focal de todas as cerimônias religiosas dos habitantes antigos de Zimbabwe.
Especulações
Entre aqueles que têm investigado Zimbabwe há ampla divergência de opinião quanto à sua idade e seu uso, tanto assim que tudo ainda constitui um enigma. Há aqueles que afirmam que o inteiro complexo não tem mais de 500-800 anos de idade, e que foi construído por um povo natural da África Central. Outros, como vimos, propõem uma história muito mais antiga, ligando-o com Salomão e até mesmo com os fenícios. Apontam para a similaridade destas construções com as dos cartagineses. Afirmam que nenhuma tribo primitiva poderia ter imaginado o método de aquecimento das rochas graníticas, derramando-se água fria sobre elas de modo que pudessem rachar-se em pedras finas com que foi construída esta cidade-fortaleza.Os proponentes da teoria “antiga” apontam para as evidências de que os construtores originais deveriam estar a par da engenharia militar e defensiva. De que outra forma poderiam ter sido concebidas as maciças trincheiras, galerias transversais, paredes ocultadoras, passagens intrincadas e entradas ocultas, artérias escavadas e parapeitos? O fato de que a área circunvizinha era e ainda é uma região da mineração do ouro é bastante sugestiva. Os depósitos de ouro minerado e a preparação de despachos para a costa por certo exigiam a proteção duma fortaleza tal como Zimbabwe.
Nos primeiros tempos, a descoberta de aves curiosas esculpidas em pedra esteatita nas ruínas da Acrópole emprestaram colorido à idéia de que o gavião sagrado do Egito, também utilizado pelos adoradores das estrelas e do sol no Oriente, era reverenciado pelos construtores de Zimbabwe. Considerável número de representações dos órgãos reprodutivos também foram descobertos entre estas ruínas. Por certo, há indícios aqui de algo bem diferente da crua adoração da natureza das tribos da África Central. Ainda assim, a inteira questão assombra os investigadores.
Velhos cadinhos para a fundição do ouro têm sido encontrados entre estas ruínas. Os mineiros modernos desta área relatam que têm encontrado implementos primitivos nos velhos túneis de minas, e crêem que aqueles mineiros primitivos, por falta de equipamento de bombear, simplesmente tiveram de abandonar as minas sempre que ocorria uma enchente.
Não se deve desperceber a possibilidade de que, nos tempos primitivos, vários homens de uma civilização mais adiantada vieram para esta área e conseguiram, por algum tempo, exercer domínio sobre algumas tribos locais, pondo-as a trabalhar na edificação desta fortaleza e de suas habitações circunvizinhas como centro seguro para o acúmulo do ouro e sua exportação.
Voltando de novo para a interessante moldura em ziguezague que rodeia o topo da muralha oriental do Recinto do Templo — é notável que se estende apenas por cerca de 80 metros, ou para aquela parte da muralha que recebe os raios do sol nascente durante o solstício do verão. Coincidência? Pelo menos, é bem conhecido nos círculos arqueológicos que a moldura em ziguezague ocorre com freqüência — nos monumentos egípcios, ou em moedas fenícias, bem como entre muitos povos africanos atuais. Sabe-se que é um hieróglifo para água, e símbolo de fertilidade.
Que Zimbabwe era certa vez um centro próspero e populoso se observa do fato que se pode encontrar antigas ruínas de pedra não só por todo o inteiro vale, mas também num raio de diversos quilômetros. É difícil determinar-se agora se estas representam postos avançados da fortaleza principal ou dormitórios para a guarnição ou para os mineiros. Uma solução completamente satisfatória para a pergunta inteira continua a escapar de nós.
Um Lugar Para Quieta Meditação
Nestes dias de tumulto e pressa, eis aqui um local para quieta meditação. Acima da Acrópole, o único som a ser ouvido é o ligeiro sussurro do vento nas árvores adiante. Não há ninguém para interromper, à medida que se contempla a estepe, interrompida aqui e acolá por uma colina ou outeiro de granito. Mimosas, acácias, glicínias, todas têm suas representantes aqui. E abundam as flores silvestres.
Mas, agora, o sol se põe rapidamente. Nesta latitude, a escuridão chega rapidamente. É tempo de partirmos, dirigindo-nos de novo para o Forte Vitória pela estrada em que viemos. Mas, não será logo que esqueceremos este local estranho, com suas numerosas deixas atordoantes, sua imensidão, a quietude e paz que agora a envolvem. Se as pedras pudessem falar, que estória poderiam contar-nos! Mas, temos de partir de Zimbabwe, o enigma da Rodésia.
Esta Matéria Foi Retirada da Revista "Despertai"
Publicada Pelas Testemunhas de Jeová
E adaptada por
Pedro Ribeiro
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