A cidade de Abrantes, no distrito
de Santarém, possui um poderoso e austero castelo. A silhueta das suas
muralhas domina uma elevação da cidade e vigia atentamente a proximidade
do extenso caudal do rio Tejo.
Pensa-se
que a antiga fortaleza pré-romana terá sido conquistada no ano de 130
a. C. pelo cônsul romano Décio Júnio Bruto. Abrantes revelava-se um
ponto estratégico fundamental, dado que esta cidade estabelecia a
confluência de várias redes viárias, posição táctica que manteve a sua
posterior validade, como o comprovam as sucessivas alterações da sua
fortaleza militar.
Esta
cidade ribatejana foi conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques em
1148. Posteriormente, seria alvo de dois longos e desgastantes cercos
levados a cabo pelos Almorávidas, o primeiro dos quais aconteceu 21 anos
mais tarde. Contudo, as forças cristãs sob o comando do primeiro rei
português defenderam valorosamente este castelo.
No
século XIII, D. Afonso III procedeu a melhoramentos substanciais nas
muralhas da cidade, para D. Dinis cumprir a tarefa de concluir o
perímetro defensivo, ao mesmo tempo que terminava a remodelação da Torre
de Menagem.
O
mestre de Avis, futuro D. João I, recebeu o apoio desta praça-forte
durante a crise de 1383-1385, tendo sido aqui tomada a decisão de
enfrentar o exército castelhano em Aljubarrota.
Na
segunda metade do século XVI, a fortaleza de Abrantes entrou em
acentuada decadência, particularmente durante a dinastia filipina. Ao
longo da ocupação espanhola, o seu interesse estratégico foi considerado
nulo.
Contudo,
no último quartel do século XVII, D. Pedro II mandou reedificar a
praça-forte de Abrantes, pois as Guerras da Restauração voltaram a
colocá-la no centro da estratégia defensiva do território nacional. As
grandes obras de remodelação seiscentistas basearam-se no moderno
sistema de fortaleza à Vauban. Foram acrescentados ao castelo medieval
dois meios-baluartes, enquanto se procedia à adaptação e alargamento das
muralhas, preparando-as para os impactos destruidores da pirobalística.
No século
XVIII, as instalações do castelo foram adaptadas a quartel, para darem
guarida a um regimento de cavalaria real. Alguns anos mais tarde, entre
1792 e 1799, foi ampliado e ocupado pela legião comandada pelo marquês
de Alorna. No virar do século, Abrantes seria um dos palcos da
denominada Guerra das Laranjas, conflito luso-espanhol que arrastou para
a guerra algumas localidades portuguesas. Em 1807, as invasões
napoleónicas aconteciam pela mão de Junot; com ele estendeu-se todo um
cortejo de violência e humilhações. O marechal francês ocupou esta
cidade a 22 de Novembro e "recebeu" o título de duque de Abrantes.
Contudo, menos de um ano depois, a cidade foi recuperada por um grupo de
militares e populares portugueses. Reocupada no decurso da terceira
invasão francesa, Abrantes voltou a ser martirizada pelas tropas
comandadas por Massena, após a derrota deste nas Linhas de Torres
Vedras.
Desactivado
em termos de aquartelamento militar, o castelo de Abrantes conserva
ainda a beleza dos volumes castrenses do seu passado. Envolta por um
parque elegante e verdejante, a fortaleza deixa ver dois distintos panos
de muralha, reforçado o primeiro por cilíndricos torreões e rasgado por
algumas aberturas rectangulares. A porta principal abre-se no ângulo
nordeste de fortaleza. O elemento que maior destaque alcança é a extensa
Loggia do Paço dos Marqueses de Abrantes, varanda de grandes e
poderosos arcos de volta perfeita, ladeada por dois torreões
cilíndricos.
O
interior da praça de armas possui ainda as antigas dependências
palacianas, marcadas pela grandiosidade das suas estruturas
arquitectónicas. Emerge destas construções a antiga Igreja de Santa
Maria do Castelo, convertida em museu onde se expõem belas colecções de
escultura romana, escultura tumular dos século XV e XVI, para além de
notáveis painéis de azulejos sevilhanos e outras significativas obras de
arte.
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