Tal como o vizinho castelo de
Linhares, também o de Celorico tem sido objecto de atribuições lendárias
em relação às suas origens, que os escassos trabalhos arqueológicos
efectuados no recinto estão longe de confirmar. Com efeito, e até ao
momento, nenhum vestígio material foi identificado que relacione o local
com as lendárias fundações de Brigo e dos Túrdulos. Por outro lado, não
está igualmente provada a relação do actual morro do castelo com a
romana Celióbriga. Em 1635, noticiou-se o aparecimento de uma inscrição
latina, mas ela veio posteriormente a desaparecer e desconhece-se o
contexto e o local da descoberta.
Idênticas
dúvidas devem colocar-se a respeito da passagem de Celorico para a
posse portuguesa e quais as obras empreendidas pelos nossos primeiros
monarcas. Adriano Vasco Rodrigues admite que, no século XII, o local era
já fortificado e que D. Afonso Henriques o conquistou e concedeu carta
de foral aos seus moradores. A primeira referência concreta acerca do
castelo data de 1198, ano em que a fortaleza se viu cercada por tropas
leonesas, o que obrigou o seu alcaide, D. Rodrigo Mendes, a solicitar
ajuda a seu irmão, D. Gonçalo Mendes, à época alcaide de Linhares.
Desconhece-se, todavia, qual a configuração da fortaleza, ou quais as
obras que levaram a que, já então, o castelo tivesse inegável relevância
estratégico-militar. Em 1217, Celorico teve foral passado por D. Afonso
II e, em 1246, a fortificação foi cercada pelo futuro Afonso III, no
quadro da guerra civil que então se viveu entre este monarca e seu irmão
mais velho, Sancho II.
O
aspecto geral do castelo que chegou até hoje data de uma ampla reforma
levada a cabo no reinado de D. Dinis e, ao que tudo indica, já durante o
século XIV. A configuração geral planimétrica assim o sugere,
incluindo-se o recinto no protótipo de fortalezas góticas. Apesar de se
adaptar às condicionantes do terreno, é claro o perfil oval da cerca.
Paralelamente, a torre de menagem adossa-se aos muros exteriores, na sua
secção Nordeste, respondendo, desta forma, às exigências de defesa
activa que caracteriza este período da arquitectura militar ocidental.
A
torre é de planta rectangular e possui apenas dois pisos, mas é, ainda
assim, a mais alta de quantas sobreviveram. O acesso faz-se por porta
elevada no alçado, em arco quebrado, originalmente através de escada
amovível e, na actualidade, por escadaria metálica. Duas portas (a Sul e
a Ocidente) permitem o acesso ao interior, num esquema que pode ainda
ser de origem românica, conhecendo-se a aversão que a arquitectura
militar dos séculos XII e XIII teve em multiplicar aberturas nas
muralhas.
Ao
longo dos séculos seguintes, foram muitas as campanhas construtivas que
se sucederam no espaço do castelo. As próprias obras de construção
ter-se-ão arrastado pelos reinados de D. Afonso IV, D. Pedro e D.
Fernando e, no século XVI, há notícia de várias beneficiações. Em 1640, a
seguir à restauração da independência, realizaram-se obras mas, um
século depois, Jerónimo Contador de Argote descreve o castelo como
estando muito arruinado, com troços de muralha destruídos e a cisterna
entulhada. O processo de desmantelamento da fortaleza intensificou-se no
século XIX, datando de 1817 um pedido do corregedor da comarca para
utilizar a pedra do castelo em diversas obras de calcetamento. Em 1835,
era a própria câmara que cedia a pedra para o mercado municipal e, nas
décadas seguintes, contam-se várias destruições na estrutura.
O
restauro do conjunto começou a ser executado a partir de 1936 e
prolongou-se até aos primeiros anos da década de 40. A filosofia dos
trabalhos obedeceu a uma "reintegração" inventiva, pelo que grande parte
do que hoje se pode encontrar resulta dessa idealização da Idade Média.
Reconstrução de muralhas, grandes remeximentos de terras no interior,
substituição de pavimentos e de telhados, alteração de cérceas, foram
alguns dos aspectos que caracterizaram essa intervenção.
Texto: PAF / IPPAR
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