Há uma relação de afectividade
neo-romântica para quem visita a vila de Óbidos. Serão poucos os casos
no país onde a busca deliberada de um ideal cenográfico de Idade Média
foi tão efectivo, razão da aparente atemporalidade das ruas do conjunto
intra-muralhas, que, na sua sinuosidade, nas suas fachadas brancas e no
vislumbre das inventadas ameias, nos transportam para um tempo mítico de
um Portugal em formação.
São
ainda obscuras as origens da fortaleza. Ao que tudo indica, a sua
posição dominante em relação à extensa lagoa a ocidente, favoreceu a
instalação de um primitivo reduto fortificado de origem romana. A Alta
Idade Média não deixou vestígios aparentes da sua presença, e será,
apenas, na viragem para o século XII que Óbidos voltará a merecer
referências documentais precisas. No mesmo impulso expansionista que
levou as fronteiras de Portugal até à linha do Tejo, em 1147, a vila
passou para a posse de D. Afonso Henriques, ficando para a posteridade
uma tradição de tenaz resistência por parte dos muçulmanos. Anos mais
tarde, na sequência das investidas almóadas de final do século, coube a
D. Sancho I reconquistar a localidade, dotando-a, então, de condições
mais efectivas de povoamento e de organização.
1210
é uma das datas mais marcantes da vila. Nesse ano, foi doada às
rainhas, passando a figurar como uma importante localidade da casa das
soberanas nacionais. Com presença assídua dos casais régios ao longo das
Idades Média e Moderna, Óbidos floresceu e foi sucessivamente
enriquecida por obras de arte. O mecenato artístico patrocinado por D.
Leonor (século XV) e, especialmente, por D. Catarina (século XVI),
marca, ainda hoje, a paisagem arquitectónica da vila.
O
castelo e as muralhas de Óbidos evocam a importância da localidade na
Baixa Idade Média. Apesar de, em grande parte, serem obra inventiva do
século XX, asseguram a todos os que se dirigem à vila a identidade
daquele passado emblemático. Desconhecemos a configuração do perímetro
amuralhado inicial, contemporâneo da acção dos nossos primeiros
monarcas. A torre do Facho, no limite Sul das muralhas e ocupando um
pequeno monte, tem vindo a ser atribuída à reforma de D. Sancho I, mas a
verdade é que os vestígios materiais inviabilizam uma análise mais
pormenorizada. A ser assim, a ligação deste espaço ao monte do castelo
ter-se-á dado logo no século XII.
Mais
consensual é a expansão urbana verificada na viragem para o século XIV.
Com D. Dinis, Óbidos cresceu para fora das muralhas, ocupando o espaço
em torno da igreja de São Pedro. Paralelamente, deu-se a reforma do
sistema defensivo, e consequente actualização do dispositivo militar,
campanha que deverá ter conferido a actual configuração ao perímetro
amuralhado. Anos mais tarde, D. Fernando terá patrocinado novas obras,
tendo a torre de menagem ainda o seu nome.
Dividido
em duas zonas essenciais (o castelejo, onde séculos mais tarde se
instalou a Pousada, e o bairro intra-muros), a cerca define um perímetro
bastante irregular, de feição rectangular e não oval, como seria mais
frequente na castelologia gótica nacional. Entre o castelo propriamente
dito (a Norte) e a Porta da Vila (a Sul), a Rua Direita estabelece a
comunicação e aparece como o eixo de circulação privilegiado dentro da
vila. Sensivelmente a meio, a Praça de Santa Maria é o principal largo
do conjunto, ocupando um espaço quadrangular que corresponde ao adro da
igreja tutelar da vila.
A
reinvenção do castelo deu-se na década de 30 do século XX. Por acção da
DGEMN, que visava reverter o conjunto à sua imagem medieval, todos os
parapeitos foram dotados de ameias, assim como se reedificaram torres e
troços que, entretanto, haviam sido destruídos. No final dos anos 40,
construiu-se a pousada, no local do antigo paço, e toda a vila foi
dotada de uma homogeneidade estética que passou pelo revestimento de cal
das fachadas e pelo pavimento uniforme de todas as ruas.
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