Antes de, em 1336, D. Afonso IV ter ordenado a construção de uma nova muralha, que reflectisse o grande desenvolvimento do burgo, existiu uma primitiva cerca, de menores dimensões e rodeando uma área consideravelmente inferior. Esta muralha românica, construída no século XII, corresponde à consolidação administrativa e urbanística do Porto (REAL, 1993, p.48), depois de um longo período de povoamento disperso, em bairros mais ou menos afastados entre si.
Dessa
estrutura, restam ainda importantes vestígios, não obstante ter sido
fortemente desmantelada nos últimos séculos. Rodeando o morro da Sé
(verdadeiro centro nevrálgico da cidade medieval), possuía uma planta
irregular ovalada, e era cortada por quatro portas principais, entre as
quais a de Vandoma (demolida pela Câmara Municipal em 1885). Ainda desse
período é a primeira fase construtiva da Casa da Câmara, no limite
Norte da cerca, cujas ruínas chegaram até aos nossos dias.
A
diferença de extensão entre esta cerca românica e a construída no
século XIV revela o enorme desenvolvimento do Porto em escassos duzentos
anos, atingindo uma população intra-muralhas estimada em cerca de 10
000 pessoas. A cidade havia-se estendido em todas as direcções, mas
particularmente para Ocidente e para Norte, ligando os pontos elevados
da Vitória e da Batalha. O seu traçado é ainda facilmente reconhecível
na malha urbana citadina e dela restam partes consideráveis. O principal
troço conservado localiza-se na zona nascente, facilmente visível da
Ponte D. Luís, e compõe-se de uma secção de muralha ameada, com caminho
de ronda e protegida por duas torres quadrangulares.
"A localização das portas da nova muralha deixa bem claro o traçado das primitivas vias
que, do burgo do Bispo, saíam para São João da Foz e Bouças, Braga,
Guimarães e Penafiel. Na rede viária intramuros vai salientar-se o largo
de S. Domingos, como o de circulação fundamental no panorama das ligações internas da urbe" (REAL e TAVARES, 1993, p.67).
Nos
séculos seguintes, foram muitas as alterações efectuadas nesta muralha.
A maioria afectou as portas e as vias de comunicação com o exterior.
Assim, em 1551, a Porta dos Carros substituiu um postigo aqui construído
no reinado de D. João I. A Porta Nova é ligeiramente anterior, do
reinado de D. Manuel (1522), edificada em substituição do postigo da
praia. Ambas foram destruídas no século XIX, aquando dos programas de
modernização urbanística portuense. Uma terceira porta, a Leste,
denominada Porta da Ribeira, foi demolida na época dos Almadas, no
âmbito das reformas setecentistas da cidade.
No
século XX, as muralhas medievais do Porto foram objecto de uma grande
campanha de restauro, ao sabor do revivalismo restaurador que
caracterizou a política do Estado Novo. Os trabalhos principais
decorreram entre 1959 e 1962, actuando prioritariamente sobre a escarpa
dos Guindais. Nestas obras, foi descoberta uma casa-torre gótica, na Rua
de D. Pedro Pitões, fronteira à Sé Catedral. Restaurada por Rogério de
Azevedo, instituiu-se como ex-libris da estrutura militar medieval da
cidade, albergando inicialmente o Gabinete de História da Cidade. Mais
recentemente, algumas intervenções arqueológicas vieram contribuir
decisivamente para o melhor conhecimento da evolução militar portuense,
designadamente no morro da Sé, onde, na Alta Idade Média, se estabeleceu
um dos muitos núcleos de povoamento da região.
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