segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Mediterrâneo: um mar fechado com feridas abertas

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Mais de mil golfinhos mortos, amontoados em praias desde a Grécia até o Marrocos, marés vermelhas venenosas no Egeu, milhões de toneladas de espuma pegajosa no Adriático, tartarugas e focas à beira da extinção, regiões em que a água já está completamente sem vida. O que está a acontecer com Mediterrâneo? Está destinado a um futuro de poluição e devastação?

“A PRIMEIRA paisagem humanizada no mundo.” Foi assim que o zoólogo David Attenborough descreveu o Mediterrâneo e suas costas. Esse mar, que banha três continentes, desempenhou um papel-chave na ascensão e queda do Egipto, da Grécia e de Roma. É o berço de boa parte da cultura e civilização modernas. Contudo, em décadas recentes, o desenvolvimento descontrolado, o grande aumento no número de turistas, a pesca excessiva e a poluição causaram uma crise no Mediterrâneo. Cientistas preocupados e nações aflitas buscam desesperadamente soluções, mas até agora só tiveram êxito parcial.
O Mediterrâneo é o maior mar interior do mundo. Mais de 160 milhões de pessoas habitam seus 46.000 quilómetros de costas, que servem de fronteira natural para 20 países, e segundo cálculos essa população deverá dobrar até o ano 2025. O Mediterrâneo é mais quente e mais salgado do que o Atlântico, que é a fonte principal de suas águas, e praticamente não tem marés. Visto que suas águas só se renovam a cada 80 ou 90 anos, ele é também sensível à poluição. “Tudo o que é jogado no Mediterrâneo, fica lá por um bom tempo”, diz a revista National Geographic.


Invasão de turistas

Com suas praias ensolaradas, belas paisagens, a tradicional hospitalidade mediterrânea e muita história, a região inteira é uma estância turística muito popular. Todo ano, 100 milhões de moradores locais e de turistas estrangeiros vão à praia ou visitam a região e, segundo a previsão, essa cifra deve triplicar em 25 anos. Será que esse grande fluxo de pessoas é responsável pela degradação das estações de veraneio? Analise os fatos.
Os países mediterrâneos não conseguem se desfazer do lixo que essas hordas de invasores trazem consigo. Cerca de 80% do esgoto que os visitantes produzem, mais de 500 milhões de toneladas por ano, acabam indo para o mar sem nenhum tratamento. A maioria dos turistas vem na estação seca, contribuindo para contaminar os recursos hídricos já escassos na região. A água contaminada, por sua vez, é perigosa para a saúde. Quem nada em determinadas partes do Mediterrâneo pode contrair infecções no ouvido, nariz e garganta, sem falar em doenças como hepatite e disenteria, e casos eventuais de cólera.
Mas a economia de muitos países mediterrâneos depende do turismo. Falando desses países, Michel Batisse, ex-director-geral assistente da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, diz: “Sua única fonte de renda é o turismo, mas isto depende de a costa não ser arruinada pela construção desenfreada em busca de lucros rápidos.”


Tráfego intenso de petroleiros

O Mediterrâneo é uma das principais rotas de transporte entre o Oriente Médio e a Europa, e por isso o tráfego de petroleiros é intenso. Mais de 20% do petróleo do mundo passa por ele. A quantidade de restos de petróleo derramados no Mediterrâneo a cada ano foi calculada em 17 vezes o total que vazou do Exxon Valdez no Alasca, em 1989. Entre 1980 e 1995, ocorreram 14 vazamentos de petróleo nesse mar, e cada ano até um milhão de toneladas de óleo cru são jogadas dos navios, muitas vezes porque os portos não têm equipamentos para captar os restos de petróleo ou para limpar os tanques.
Para piorar as coisas, a água mais profunda é a que flui do Mediterrâneo para o Atlântico pelo estreito de Gibraltar. Visto que o óleo flutua, o mar perde a água profunda, e mais limpa, mas tende a reter os acúmulos de petróleo na superfície. “A cadeia alimentar do Mediterrâneo está agora marcada pela poluição causada pelo petróleo”, diz Colette Serruya, ex-directora do Instituto Oceano gráfico Israelita. “Já faz parte dos tecidos dos nossos peixes e moluscos.” Em 1990, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) relatou que 93% dos mariscos apanhados no Mediterrâneo continham mais bactérias fecais do que o máximo permitido pela Organização Mundial da Saúde.

Ecossistemas enfraquecidos

Além dessa poluição prejudicial, as costas do Mediterrâneo, que em grande parte eram densamente cobertas por florestas até pelo menos o século 15 EC, têm sido devastadas. Para limpar a terra para o plantio, expandir as cidades ou fornecer material de construção para as galés venezianas, recorreu-se ao desmatamento, o que resultou em erosão irremediável. A chuva transporta sedimentos para o mar e, além disso, os rios levam poluentes como detergentes, pesticidas e metais pesados. O Ródano (França), o Nilo (Egito), o Pó (Itália), o Ebro (Espanha) e outros rios arrastam quantidades cada vez maiores de resíduos agrícolas e industriais.
Um resultado directo dessa poluição são as marés vermelhas que têm atingido várias regiões dos mares Adriático e Egeu, cobrindo as praias com um lodo pegajoso e malcheiroso. Esse fenómeno é causado pela eutroficação, processo que ocorre quando a matéria em descomposição esgota o oxigénio dissolvido na água, sufocando grande parte da flora e da fauna locais. Outras áreas ameaçadas por esse fenómeno são o golfo de Leão (França), o lago de Túnis (Tunísia), o golfo de Izmir (Turquia) e a laguna de Veneza (Itália).
O ecossistema costeiro ficou tão enfraquecido que espécies exóticas estão acabando com as espécies nativas do Mediterrâneo. Um exemplo típico é o da alga “assassina”, Caulerpa taxifoliaMeinesz, professor de Biologia Marinha na Universidade de Nice, na França.
Ainda há outras notícias ruins. Segundo o biólogo marinho Charles-François Boudouresque, mais de 300 organismos marinhos exóticos foram introduzidos no Mediterrâneo. A maioria veio do mar Vermelho através do canal de Suez. Alguns pesquisadores acham que essa poluição biológica é irreversível e que talvez se torne um dos maiores problemas ecológicos do próximo século.

Morte na água

A flora do Mediterrâneo enfrenta muitos perigos, um dos quais é a destruição das florestas de algas Posidonia que servem como pulmão, despensa e berçário do mar e como abrigo onde centenas de espécies marinhas se reproduzem. Cais e marinas que invadem as florestas de algas podem destruí-las, assim como barcos de passeio que, com suas âncoras, arrancam-nas do fundo do mar.
A fauna marinha está igualmente ameaçada. A foca-monge do Mediterrâneo, uma das 12 espécies mais ameaçadas do mundo, está sendo extinta. Havia quase 1.000 focas-monge no Mediterrâneo em 1980, mas caçadores e pescadores as dizimaram e hoje só restam 70 ou 80. A tartaruga-boba agora só põe ovos nas praias gregas e turcas, onde às vezes são pisoteados pelos turistas. As tartarugas muitas vezes ficam presas nas redes de pesca e acabam no cardápio de restaurantes locais. A lagosta-gafanhoto (tamarutaca) e certos tipos de moluscos também foram colocados na lista de espécies ameaçadas.

Plano de acção

Para lidar com essa situação alarmante, em 1975, com o apoio do Pnuma, adotou-se o Plano de Acção Mediterrâneo (MAP). Seu objectivo é conseguir que os países mediterrâneos e outros membros da União Europeia não só protejam o mar da poluição, mas também assegurem que o desenvolvimento costeiro respeite o meio ambiente. Em 1990, lançou-se o Programa de Assistência Técnica ao Meio Ambiente do Mediterrâneo (METAP), sucedido, em 1993, pelo METAP II. Outros esforços de criar reservas naturais, santuários e parques nacionais marinhos têm tido alguns resultados elogiáveis na proteção a golfinhos, baleias, focas-monge, tartarugas e outras espécies ameaçadas.
Contudo, muito se falou, mas pouco se fez. No início dos anos 90, o MAP estava próximo de um colapso, pois as principais nações contribuintes não pagaram suas taxas. De acordo com autoridades envolvidas no plano, segundo se sabe, nenhum de seus objetivos foi alcançado. Falando da disposição dos países mediterrâneos de tomar medidas para diminuir o problema, Ljubomir Jeftic, coordenador adjunto do MAP, alertou: “Não fiquem muito optimistas.” Mesmo que esses países concordem em agir, poderá levar décadas para reparar o dano já causado. A revista New Scientist diz: “No momento, assim como a maior parte da vida selvagem do Mediterrâneo, o MAP parece morto.”
Qual é então o futuro do Mediterrâneo? Tornar-se um mar morto, cheio de algas turvas mal cheirosas? Talvez sim, se o futuro dele dependesse apenas do homem. Mas o Criador deste planeta, Jeová Deus, se preocupa com “o mar, que ele mesmo fez”. (Salmo 95:5) Ele prometeu que logo ‘arruinará os que arruínam a Terra’. (Revelação [Apocalipse] 11:18) Depois dessa remoção necessária dos humanos irresponsáveis que poluem, entre outras coisas, o mar, Deus restaurará ao nosso planeta o equilíbrio ecológico e a biodiversidade apropriadas. Então ‘os mares e tudo o que neles se move O louvarão’, tendo voltado à sua condição original, limpa. — Salmo 69:34.

Esta Matéria Foi Retirada da Revista "Despertai"
Publicada Pelas Testemunhas de Jeová

E adaptada por
Pedro Ribeiro

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