CASTELO
Chaves
entrou na órbita cristã medieval em finais do século IX, altura em que
um enigmático Conde Odoário, ao serviço dos reis asturianos, presuriou a
antiga Acquae Flaviae. Esta é uma das escassas referências
alti-medievais para o actual território de Trás-os-Montes,
depreendendo-se, ainda assim, que a integração da região nos domínios da
coroa asturiano-leonesa foi uma preocupação dos monarcas.
Desconhece-se
a configuração desse primeiro recinto, mas é de supor que se tratasse
de uma estrutura pouco mais que rudimentar, possivelmente uma simples
torre quadrangular de escassa altura. Certo é que, nos séculos
seguintes, o castelo desempenhou um papel importante na organização e na
defesa do reino de Portugal. Em 1093, a vila é incluída no dote de
casamento de D. Teresa com o conde D. Henrique. Não consta, todavia, que
se tivessem realizado grandes obras durante o século XII, o que pode
motivar uma interpretação distinta da importância da localidade nesses
primeiros tempos da nossa monarquia, que terá privilegiado a
concentração da defesa desta secção em castelos que não Chaves, como o
de Montalegre.
O que resta da fortificação medieval foi edificado no
período gótico, possivelmente no século XIII. D. Afonso III passou foral
à povoação em 1258 e é a este monarca que se atribui o projecto
defensivo baixo-medieval. A colocação da torre de menagem junto a um
troço da muralha é um forte indicador nesse sentido, conhecendo-se a
preferência românica por isolar esta estrutura no centro de um pátio
interior e não defendendo activamente os muros. A amplitude do projecto
terá determinado algum arrastamento das obras, que continuaram pelo
reinado de D. Dinis.
A segunda grande fase de obras do recinto
ocorreu já em plena época moderna. No Portugal em guerra com Castela
devido à proclamação da independência nacional, Chaves transformou-se na
principal praça forte transmontana, recebendo, por isso, um forte
reforço da sua estrutura militar. Entre 1658 e 1662 reconstruíram-se as
muralhas e deu-se forma ao Revelim da Madalena e ao Forte de São
Francisco, dispositivos ligados ao velho castelo medieval e
complementados por trincheiras. Nos anos seguintes, e até 1668, o
sistema foi reforçado com a construção do Forte de São Neutel.
Perdida
a sua importância com o finalizar da guerra, o castelo entrou em
decadência, recebendo um amplo processo de restauro já no século XX, a
cargo da DGEMN.
FORTE DE SÃO NEUTEL
O Forte de São Neutel, localiza-se na cidade de Chaves, Freguesia de Madalena, Concelho de Chaves, Distrito de Vila Real, em Portugal.
Complementava,
na colina a Norte, a defesa proporcionada pelo Castelo e pelo Forte de
São Francisco à cidade de Chaves, na fronteira com a Galiza.
História
As
suas obras foram iniciadas no contexto da Guerra da Restauração, entre
1664 e 1668, quando se procedeu à petrificação das estacas do Alto da
Trindade e construção do forte, pelo Governador das Armas da Província
de Trás-os-Montes, General Andrade e Sousa.
Foi palco do combate, em 1912, entre forças civis, militares e o regime republicano.
No século XX, em 2 de Dezembro de 1926, deliberou-se mandar ultimar as obras da nova cadeia no Forte de São Neutel, para se proceder à transferência dos presos da antiga cadeia.
A
fortificação pertencia ao Exército Português e, por essa razão,
normalmente se encontrava fechada à visitação. Na década de 1980 fez-se
sentir a intervenção do poder público através da Direcção-Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), na forma de diversas obras de
beneficiação (1981, 1987). Mais recentemente, em 1994, foi construído um
anfiteatro no interior do forte, pela Câmara Municipal de Chaves, onde
atualmente se realizam concertos e outras atividades ao ar livre.
Características
O
forte apresenta planta quadrangular, orgânica (adaptada ao terreno),
com baluartes nos vértices, no estilo Vauban, cercado por um fosso seco e
por uma segunda linha defensiva.
O acesso ao forte é feito por uma sólida ponte de pedra, que liga a muralha exterior ao Portão de Armas.
Os muros, de granito, apresentam de um metro a um metro e meio de espessura, com uma altura que varia de sete a dez metros.
No
interior, destaca-se a Capela de Nossa Senhora das Brotas, de
construção anterior ao forte, cuja Senhora é homenageada anualmente, no
Domingo da Pascoela, com uma procissão e festa. Tem um altar único com a
imagem de São Neutel, encontrando-se a da Senhora das Brotas
(persistência de um antigo culto pagão a Ceres) representada numa
pintura suspensa na parede lateral. Atrás da capela, existem pequenas
edificações construídas para abrigar os soldados veteranos do antigo
Batalhão de Caçadores nº 10.
FORTE DE SÃO FRANCISCO
O Forte de Nossa Senhora do Rosário, melhor conhecido como Forte São Francisco de Chaves, localiza-se na cidade de mesmo nome, Freguesia de Madalena, Concelho de Chaves, Distrito de Vila Real, em Portugal.
Juntamente
com o Forte de São Neutel, este forte, em posição dominante na colina
da Pedisqueira, vizinho ao rio Tâmega e à antiga ponte romana,
destinava-se a defender a cidade, na fronteira da Galiza, à época da
Guerra da Restauração.
História
Antecedentes
O
forte remonta a um Convento franciscano – o Convento de Nossa Senhora
do Rosário -, erguido no início do século XVI, que lhe deu a designação.
De acordo com uma escritura celebrada com Frei Rodrigo de Morais em
1446, terá sido o arquiteto Mestre Joanes de Cibrão que projetou a
abóbada do Convento.
O Forte de Nossa Senhora do Rosário
No
contexto da Guerra da Restauração da independência, reconhecendo-se a
importância da posição estratégica da cidade, junto à fronteira,
impôs-se a modernização de suas defesas medievais. Visando evitar que as
colinas vizinhas fossem ocupadas por baterias de artilharia inimiga,
estas posições foram guarnecidas.
Na
colina da Pedisqueira, onde existia o antigo Convento franciscano,
optou-se por envolvê-lo com muralhas abaluartadas, transformando-o num
forte. Os trabalhos desenvolveram-se sob as ordens do Governador das
Armas da Província de Trás-os-Montes, D. Rodrigo de Castro, conde de
Mesquitela, entre 1658 e 1662. Os trabalhos de defesa de Chaves foram
complementados com a construção de novos panos de muralha ligando o
forte aos antigos muros medievais, reforçados ou reconstruídos na
ocasião, envolvendo-se os bairros que haviam se expandindo extra-muros
medievais. A defesa foi estendida à antiga ponte romana sobre o Tâmega,
cujo acesso, na margem oposta, também foi fortificado, com a construção
do Revelim da Madalena.
No
início do século XIX, quando da Guerra Peninsular, Chaves e suas
defesas não estavam em condições de defesa. Após diversos embates com as
tropas napoleônicas sob o comando do General Soult, as tropas
portuguesas, sob o comando do General Francisco Silveira, recuaram para
pontos estratégicos, deixando a cidade com uma pequena guarnição sob o
comando do Tenente-coronel Pizarro. Estas forças, assim como a de
milicianos que enfrentou o inimigo, foi aprisionada e depois libertada. O
Forte de São Francisco foi utilizado como quartel-general dos
franceses na ocasião, e, nessa qualidade, foi alvo da contra-ofensiva do
General Silveira, em Março de 1809. Após seis dias de violentos
combates, a guarnição francesa rendeu-se, e Chaves foi libertada.
Posteriormente,
foi cenário ainda de lutas quando das Guerras Liberais e, mais tarde
ainda, em 1910, quando da Proclamação da República Portuguesa.
Perdida
a sua função defensiva, após abrigar por quase setenta anos o 10º
Batalhão de Caçadores, as dependências do forte foram abandonadas,
entrando em processo de ruína.
Do século XX aos nossos dias
Encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto publicado em 22 de Março de 1938.
A
intervenção do poder público, através da Direcção-Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais (DGEMN) registrou-se a partir de 1957, quando lhe
foram promovidas obras de conservação. Diversas etapas de consolidação,
limpeza, desobstrução, reparação e reconstrução tiveram lugar nas
décadas seguintes, até que, a 16 de Janeiro de 1989, o Forte de São Francisco
foi cedido, a título precário, à Câmara Municipal de Chaves. Na segunda
metade da década de 1970, as dependências do forte serviram como
alojamento provisório para famílias retornadas das ex-colônias
portuguesas na África.
Em
1994 as dependências do forte foram requalificadas como uma unidade
hoteleira, empreendimento promovido Sociedade Forte de S. Francisco,
Hoteis, Ldª, com projeto do Arquiteto Pedro Jalles. O Forte de São
Francisco Hotel, inaugurado em Maio de 1997, encontra-se classificado
com quatro estrelas. Disponibiliza cinquenta e três quartos aos
visitantes, bar e restaurante, quadra de tênis, piscina e sauna.
Características
O
forte apresenta planta simples no formato estrelado, com quatro
baluartes nos vértices, no sistema Vauban. As muralhas, com espessura de
um metro, variam entre quatro a vinte metros de altura e são revestidas
em granito.
O
acesso principal é feito através de um portão no lado Sul, através de
uma ponte levadiça sobre o fosso, atualmente aterrado. Existem acessos
secundários pelo lado Leste e pelo lado Oeste, todos conduzindo, através
de túneis, para a Praça de Armas.
Entre
as edificações no interior do forte destaca-se a antiga Capela de São
Francisco, que abrigou por três séculos, até 1942, o túmulo de D.
Afonso, primeiro duque de Bragança, restaurada e bem preservada.