A construção da Fortaleza de S.
Julião da Barra foi recomendada por D. Manuel I a seu filho D. João num
terreno, junto à confluência das barras Norte e Sul que se avistava da
ermida de Stº Amaro, onde o Rei ia implorar cura para as suas pernas.
Com
efeito, o então denominado Forte da Ponta de S. Gião, por ter sido
construído no local onde antes existia uma pequena capela com aquele
nome, foi mandado construir por D. João III, não só para cumprimento do
desejo de seu pai mas também porque os seus conselheiros militares
propunham que a defesa marítima do Porto de Lisboa não se deveria basear
no Castelo de S. Jorge e Cerca Moura, mas sim em fortalezas junto à foz
do Tejo.
Os
planos da fortaleza, cuja construção se teria iniciado em 1553, são
atribuídos a Miguel Arruda, que esteve envolvido na construção do
Mosteiro da Batalha e também na fortificação de Ceuta.
O
forte foi palco de duas rendições: a 13 de Agosto de 1580 entregue aos
espanhóis, por entendimento de Tristão Vaz da Veiga com as tropas de
Filipe II de Espanha e a 12 de Dezembro de 1640 quando um oficial de
Filipe IV de Espanha, D. Fernando de La Cueva, o devolve aos
portugueses, sem resistência, em troca de substancial recompensa.
Foi
cárcere – militar e politico – desde o domínio dos Filipes até ao
reinado de D. Miguel. O General Gomes Freire de Andrade terá sido
provavelmente o mais conhecido desses forçados ocupantes, de onde,
aliás, só saiu a 18 de Outubro de 1817, para ser enforcado. Em sua
memória foi colocada uma lápide e um silhar de azulejos com a sua efígie
sobre a porta da torre.
No
inicio do século XIX (1807), as tropas francesas, sob o comando do
General Junot, invadiram Portugal pela fronteira da Beira, alcançando
Lisboa em 30 de Novembro, quando a família real já se encontrava a
caminho do Brasil. Junot visitou pelo menos duas vezes a fortaleza
durante a ocupação. Em 2 de Setembro de 1808, após a Convenção de
Sintra, a bandeira inglesa substituiu a francesa no mastro da Torre de
S. Julião da Barra.
O
Alvará Pombalino de 1 de Fevereiro de 1758 que criou o Serviço de
Faróis, indicava S. Julião como um dos locais para os quais El-Rei
ordenava “…que logo se levantem seis competentes pha-roes para guia da
navegação das referidas costas e barra (…)”
Apesar
deste facto, constata-se que já tinha existido um farol em S. Julião,
antes do terramoto de 1755, a julgar pelo que diz o padre Matias Marques
Cardoso, prior da freguesia de N.S. da Conceição, numa “Memória”
incluída no “Dicionário Geográfico de Portugal” do padre Luís Cardoso,
arquivada na Torre do Tombo: “Tem esta fortaleza um farol em cima de uma
altíssima torre que se levanta no meio da praça o qual se ascendia de
noite para guia das embarcações, do 1º de Outubro até aos fins de Março.
O nomeado farol caiu com o terramoto.”
A
Torre de S. Julião foi restaurada e acrescentada “em trinta palmos”
(seis metros) entrando em funcionamento em 1761 com uma pequena fonte
luminosa de uma só chama, alimentada a azeite e protegida por uma
lanterna em pedra com vãos para passagem da luz. Em 1775 é instalado um
aparelho de candeeiros de Argand com reflectores parabólicos. O farol,
em 1848 e 1865, é modernizado, tendo sido nesta última data instalado um
aparelho lenticular de Fresnel de 4ª ordem, produzindo luz branca fixa,
alimentada a gás destilado de madeira.
A
iluminação, em 1885, passou a ser obtida pela incandescência de gás
obtido do petróleo. O farol voltou a sofrer novas reparações em 1893 e
1913, sendo-lhe instalado um sinal sonoro de trompa em 1916, mas logo em
Março desse ano e até Dezembro de 1918, esteve apagado em virtude da I
Grande Guerra.
Por
motivo da resolução da Conferência de Balizagem realizada em Lisboa, em
1933, que bania as luzes fixas das balizagens marginando cidades ou
povoações importantes, a luz do farol, que era branca fixa, passou a
vermelha de ocultações, sendo o mesmo electrificado, por ligação à rede
pública de energia e o sinal sonoro substituído por uma sereia
electrodinâmica.
O
farol, em 1980, com a instalação de um cambiador de lâmpadas e de um
grupo gerador de arranque automático, controlados via rádio na Central
de Monitorização dos Faróis da Barra de Lisboa, instalada na Direcção de
Faróis, ficou automatizado tendo por esse facto deixado de ali prestar
serviço pessoal faroleiro. Entretanto, a fortaleza foi desguarnecida
militarmente em 1951, sendo actualmente residência oficial do Ministro
de Estado e da Defesa Nacional.
Local: Oeiras
Altura: 24 m
Altitude: 39 m
Luz: Oc Vm 5s
Alcance: 14 M
Óptica: 4ª Ordem 250 mm
Ano: 1775
O
Farol de S. Julião sempre teve grande significado para os marinheiros,
já que além das suas funções de alumiamento forma, com o seu homónimo do
Bugio, um alinhamento que define a entrada/saída da Barra de Lisboa, a
denominada passagem entre torres. O momento dessa passagem marca a
entrada no mar oceano e a preocupação com o que se terá de enfrentar ou a
chegada da missão cumprida e o reconfortante regresso a casa.
A
Torre e o Farol, que mantém a óptica instalada em 1895, são o ex-libris
da maior fortaleza marítima situada no porto de Lisboa e uma das mais
belas da Europa.
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