Implantado junto à entrada para a
Boca do Inferno, o Palácio do Conde de Castro Guimarães, como ficou
conhecido, é uma arquitectura fortemente cenográfica e pictórica, que
encontra, na perfeita integração com o meio envolvente e com os
equipamentos já aí existentes, como a ponte rústica, um dos seus maiores
trunfos. Por outro lado, e no contexto do século XIX, em que a história
é integrada na arquitectura como memória colectiva , este palacete de
veraneio constitui um exemplo de eclectismo, ao mesmo tempo unificador
de várias linguagens arquitectónicas, que lhe conferem um enorme sentido
de monumentalidade.
Seguindo
a descrição de Branca Colaço e Maria Archer, o autor do projecto
"deu-lhe a graça medieval das janelas geminadas, as cúpulas das igrejas
orientais, os mirantes dos serralhos moiriscos, os coruchéus das
catedrais góticas, os alpendres dos solares minhotos, as torres das
fortificações bárbaras, os varandins dos palácios italianos, as arcarias
do estilo manuelino, mil enfeites, mil contornos diversos". A mesma
ideia está presente nos estudos recentes de Regina Anacleto, nas
palavras de quem este edifício "patenteia uma amálgama de tendências e
de materiais que se estendem desde o castelo senhorial a reminiscências
mouriscas, manuelinas e renascentistas, bem como da pedra ao reboco de
argamassa, passando pelo revestimento cerâmico".
A
edificação do palácio deve-se à iniciativa de Jorge O'Neill, irlandês
ligado aos negócios do tabaco e às finanças que, em 1892, requereu o
aforamento destes terrenos à Câmara de Cascais. Tomando o exemplo de D.
Luís, os nobres e personalidades influentes elegeram esta orla da linha
como destino privilegiado de férias, implantado aqui as suas habitações
de veraneio.
Crê-se
que o modelo da casa que O'Neill veio a construir seja devido ao
cenógrafo Luigi Manini, que o irlandês teria encontrado a pintar, neste
local, inserindo na paisagem um palacete revivalista, tão ao gosto de
outros projectos da sua autoria, como o Palace Hotel do Buçaco. Foi, no
entanto, o pintor Francisco Vilaça quem concebeu o desenho do palácio,
cerca de 1900, imprimindo-lhe um carácter cenográfico, devedor de Manini
e de si próprio, que concentra nas fachadas-cenário todo o esforço
decorativo.
Apresenta
planta irregular, constituída por um corpo longitudinal onde se inclui o
claustro, um outro também de planta rectangular, e a torre de São
Sebastião, esta última de aparência românica. Os volumes são,
igualmente, irregulares e de formas muito diversas, com fachadas abertas
por vãos de características muito diferenciadas. Merecem especial
destaque os jardins, com equipamentos diversos e um lago com uma parede
de azulejos provenientes, muito possivelmente e como a iconografia
indica, de uma igreja de religiosos teatinos. Na verdade, os azulejos
que encontramos no exterior e no interior revelam, também eles, o gosto
pelo antigo, tendo sido aqui utilizados painéis cerâmicos de origens
diversas, quer do século XVII, quer do século XVIII.
Jorge
O'Neill imprimiu ao palácio um cunho muito pessoal, bem visível nos
elementos de origem irlandesa, como os trevos presentes nos ferros
forjados, e nas pinturas de algumas salas.
Em
1910, O'Neill encontrava-se numa situação financeira difícil, que o
levou a vender o palácio ao Conde de Castro Guimarães, um importante
banqueiro que beneficiava de privilegiadas ligações internacionais.
Este, sem descendentes, optou, no seu testamento, por deixar o edifício à
vila de Cascais, com a condição do município fazer dele um museu e um
jardim público. Assim veio a acontecer em 1927, aquando da sua morte,
abrindo o museu ao púbico apenas três anos mais tarde, em 1930.
Conservando as características de Casa-Museu, a sua colecção é
constituída, essencialmente, por mobiliário, azulejaria, porcelana,
pintura e arqueologia, dispondo, ainda, de uma biblioteca.